CANGA

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GOUVEIA, HORÁCIO BENTO (2008) CANGA. FUNCHAL: 500 ANOS FUNCHA UMA PORTA PARA O MUNDO. DE 24X17CM. COM 239 PÁGS. B.

“Em 1946, Horácio Bento de Gouveia lança-se à escrita de um admirável fresco, visando ilustrar a injustiça gritante de que padecia certo mundo rural madeirense, bem como a evolução dos costumes da sociedade funchalense dos anos vinte. [...] Apresenta a sua terra e as suas gentes e representa-se a si mesmo, ensaiando uma construção mítico-literária da Madeira, no sentido de definir uma identidade insular e projectar um futuro melhor para a sua comunidade. Entende que uma região se afirma pelo que faz ou alcança no campo cultural e que vale a pena sensibilizar – mesmo através da arte literária – a opinião pública e os decisores políticos como contributo para pôr cobro ao obsoleto regime agrário da colonia. [...] A acção principal da narrativa remonta a 1914, na Ponta Delgada, «terreola atrasadinha, de convivência rústica», no dizer do autor, e, paralelamente, em jeito de contraponto, passará a decorrer, intercaladamente, também no Funchal e em Lisboa. A ficção inscreve-se tanto na narrativa de aprendizagem com fundo autobiográfico como no modo literário da crónica. Nos seus múltiplos discursos, o livro navega por entre as águas do presencismo, do neo-realismo e dos regionalismos aquiliniano e brasileiro, apontando claramente para a reivindicação social, uma das missões que a literatura ocidental com intencionalidade progressista da altura levava a peito. O tema central do romance é o drama da colonia, antigo regime agrário que vigorava, anacronicamente, na Madeira, e que tinha particular expressão desumana na Ponta Delgada. Esse regime prendia à terra o colono, nela trabalhando de sol a sol, em benefício do senhorio, não sendo aquele nunca dono do solo, mas apenas das benfeitorias, cujo valor de transacção dependia da vontade deste. As famílias de colonos aqui retratadas, os Péleas, os Misérias e os Garipos, entre outros, contracenam com os gananciosos senhorios, Filipe Custódio e Luís da Feiteira. Esta situação é acompanhada por Manuel Esmeraldo, o fio condutor da narrativa e o protótipo do bom rapaz de família abastada, de configuração romântica e dado à meditação, que desperta para os amores de adolescente e de estudante. Desse processo de tomada de consciência, resulta a afirmação do protagonista contra uma situação económica e social que o ultrapassa. O percurso de Manuel leva o leitor a descobrir primeiro a vida da aldeia, depois, a vida mundana funchalense da época em que se dançava o tango e o foxtrote nos bailes do Casino e, por fim, a boémia de estudante em Lisboa. Nessas atmosferas recriadas, denuncia-se a dissolução de valores tradicionais e certo artificialismo no modo de viver das pessoas do meio urbano. [...]

Reunidas e sumariadas todas as versões textuais de que temos conhecimento, a opção pela quarta versão como texto de base de uma nova edição é pacífica. Essa opção é reforçada ainda pelo facto de o escritor aparentemente se ter dado por satisfeito com essa quarta versão, ao não voltar mais a ela.

Das observações que registámos – tentando sintetizar alguns dos problemas suscitados pela história do texto Ilhéus/Canga – facilmente se poderá concluir quanto à oportunidade de se reeditar este romance. Para bem de quantos se interessam por uma das melhores narrativas de ficção de ambiente madeirense e para que se preste homenagem ao escritor Horácio Bento de Gouveia.”

Nota: lombada descolorada.

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