| HELDER, HERBERTO (2015) O BEBEDOR NOCTURNO. PORTO: PORTO EDITORA.   DE 20X14 CM. COM 192 PÁGS. E. «Desde os anos 60 que se torna evidente o interesse de Herberto Helder   por textos oriundos de determinadas culturas que vieram a sofrer grandes   mutações, ou de culturas locais, primitivas e anónimas, e que vieram a ser   objecto de colonização. Textos, portanto, onde a tradição está sempre   presente e é particularmente preservada, mas também ameaçada. São poemas do   Antigo Egipto, da Grécia, poemas Zen, arábico-andaluzes, poesia mexicana do   ciclo nauatle, poemas esquimós, indochineses, mas também todo um ciclo de   textos sagrados como os Salmos do Velho Testamento ou o Cântico dos Cânticos.   Os mais recentes livros mostram o mesmo critério, embora o alarguem   substancialmente: os textos vêm-nos da Índia, da Austrália, de África e das   Américas. A maioria são textos maias e astecas e textos da tradição oral dos   diferentes índios da América do Norte, Central e do Sul, como os Navajos e   Comanches ou, no Brasil, os Caxinauás e os Guaranis. […] O interesse de   Herberto Helder por estas tradições primitivas, não europeias, advém da   maneira peculiar como também ele olha o mundo, nele se insere e convive com a   linguagem. Nessas tradições, ele encontra a mesma linguagem ritualística, uma   vontade de expressão simbólica semelhante e os mesmos valores humanos   inseridos numa cosmogonia poética; também a unidade original de todos os   elementos da natureza e a ideia de uma metamorfose contínua (nomeadamente por   acção do fogo, através de todas as suas manifestações), assim como a imagem   do poeta como mago, possuído por uma força animista da linguagem. Todos estes   aspectos estão presentes tanto nos textos a traduzir como na poesia própria.»   Maria Etelvina Santos |