COUTINHO, ARTUR (2012) COSTUMES E TRADIÇÕES POPULARES. VIANA DO CASTELO: FÁBRICA PAROQUIAL DE NA SRA DE FÁTIMA. DE 24X16 CM. COM 303 PÁGS. ILUST. B.
Artur Rodrigues Coutinho oferece-nos uma perspectiva peculiar, tal como escreve Albino Ramalho em prefácio à mesma obra, onde “sobressai a preocupação do autor pela história, usos e costumes tradicionais, crenças, actividades, formas e estilos de vida, nomeadamente da sua Mazarefes natal, inspiradora de boa parte de textos, e de outras que, como sacerdote, pastoreou: paróquias de Dem e Argas, em Caminha, e Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Viana do Castelo”. 
De facto, Artur Rodrigues Coutinho sempre soube aproveitar o contacto com o meio e as populações, auscultando-lhes as memórias e as vivências, traduzidas e/ou aliadas a um verdadeiro trabalho de campo, etapas indispensáveis ao conhecimento histórico, etnográfico e antropológico, tendo em conta que o conceito de etnografia está intimamente ligado à antropologia. (…)  São muitas as ligações sublimes ao fenómeno social, onde se estabelece um percurso entre a economia e o conjunto da organização social, passando pela família e espelhadas nas bem delineadas – numa escrita clara e escorreita – descrições de artes e ofícios: pescador do rio, sapateiro resistente, funileiro da Bandeira, afiadores, fotógrafos e casamentos, fogueteiros Silvas, o engraxador, os capadores, fotógrafos “à la minute”, os serradores, as leiteiras, os azeiteiros (ainda hoje nos lembramos do Sérgio de Darque), coveiros, cangalheiros e agentes funerários, os semeadores, os varredores, os ceifeiros, as bordadeiras, os sacristães, cascalheiros, calceteiros, pedreiros, canteiros, escultores…, o alfaiate, as rendilheiras, tricoteiras e crocheteiras, as parteiras da aldeia, os santeiros da Abelheira, os carreteiros, as doceiras, as tremoceiras, as aguadeiras, os carteiros, os barbeiros, as sardinheiras, as tecedeiras, os ferradores, carpinteiros e marceneiros, os padeiros, a figura do Regedor, carpinteiro ambulante, os cordoeiros de Mazarefes, os resineiros, os oleiros, as touradas e as garraiadas (no dizer de Artur Coutinho “não é desporto que me seduza”), a leiteira da sina, os farinheiros, o peneireiro, as lavadeiras, as engomadeiras, etc.
E os costumes, aliados às tradições populares e ao património, não escaparam ao olhar perspicaz do observador: a leitura da sina, os nichos das alminhas, lenços e penteado do cabelo, os cruzeiros e as cruzes de Viana, os moinhos, morte e tratamento dos corpos, santos populares, fórmula para cubicar uma vasilha, os brinquedos do seu tempo, as vindimas, as malhadas, o magusto, ceia de Natal e a fogueira, a apanha da azeitona, as matanças, as janeiras, serração da velha, os bigodes, barbas, cavahaques e as suíças, o calçado, as podadas, carro de bois, as flores e o luto, oratórios, a pobreza de ontem e de hoje, os transportes da sua meninice, o vestuário, o mês das almas, as trindades, mistérios, a eira, a cozedura do pão, os fornos e as lareiras, espadeladas e estopadas, a cordoaria, a casa antiga, a casa da lenha, os remédios caseiros, os calvários, a cultura do linho, as cavadas, as roçadas, a alimentação, (os célebres) aerogramas, a taberna, a arte de levar os andores, etc., etc… Tudo isto é mais que suficiente para aguçar o apetite do leitor mais atento às vivências directas da realidade, onde todos nós nos inserimos. Artur Coutinho, astuto na observância e na análise, tem vindo a demonstrar uma extraordinária capacidade de articular o exercício da sua missão na comunidade que pastoreia – e outras que anteriormente pastoreou – com a interacção sociológica, ligando o passado com o presente, mas perspectivando o sentido de uma evolução natural para o futuro. Daí, a sua grande obra social, que até o “catapultou” para o merecido título de cidadão de mérito vianense.